A romantização dos diagnósticos nas redes sociais: riscos e consequências para quem vive de verdade a neurodivergência
- Luti Christóforo

- 11 de jul.
- 2 min de leitura
Por Luti Christóforo – Psicólogo
Nos últimos anos, falar sobre saúde mental nas redes sociais se tornou mais comum, e isso, sem dúvida, é um avanço. A quebra de tabus, a busca por autoconhecimento e o aumento da procura por terapia são reflexos positivos dessa mudança cultural. No entanto, há um fenômeno preocupante crescendo nesse mesmo cenário: a romantização dos diagnósticos.
Perfis que tratam o TDAH como sinônimo de genialidade, o autismo como um “superpoder”, a ansiedade como um traço poético da personalidade. Vídeos curtos e virais que reduzem transtornos sérios a “estilos de ser”. Testes informais de internet, autodiagnósticos apressados e conteúdos que transformam sofrimento psíquico em tendência comportamental.

Esse tipo de abordagem, apesar de parecer inofensivo ou até positivo à primeira vista, desrespeita a complexidade da experiência neurodivergente. Pessoas que realmente convivem com esses transtornos, todos os dias, sabem que a realidade não é romantizada. É desafiadora. É cheia de luta interna, adaptação, frustrações e invisibilidades.
O que muitos esquecem é que o diagnóstico não é uma identidade social ou um acessório emocional. Ele é uma ferramenta clínica, séria, construída com base em critérios, histórico de vida, análise profunda e responsabilidade. Usá-lo sem critério pode gerar confusão, atrasar tratamentos adequados ou até fazer com que pessoas que realmente precisam de ajuda deixem de ser levadas a sério.
Na prática clínica, observo dois efeitos comuns dessa romantização:
1. Pessoas que se identificam com sintomas superficiais e passam a se autodiagnosticar, sem buscar avaliação profissional.
2. Pessoas que, mesmo tendo um diagnóstico verdadeiro, passam a sentir que estão sendo vistas como exageradas, modinhas ou dramáticas.
Ambos os cenários são prejudiciais. No primeiro, há o risco de negligência. No segundo, há o risco de invalidação.
Além disso, quando um transtorno é romantizado, perde-se a chance de olhar com profundidade para as dores que ele carrega. E, com isso, perde-se também a oportunidade de propor soluções reais, acolhimento verdadeiro e estratégias que respeitem a singularidade de cada um.
A psicologia tem como compromisso olhar para o sujeito por inteiro. Isso significa ir além dos sintomas e compreender o contexto, a história, as emoções e os significados que estão por trás. Não se trata de “etiquetar” ninguém, mas de compreender para cuidar. E isso exige ética, escuta qualificada e discernimento.
Falar sobre neurodivergência é necessário. Mas é preciso fazer isso com responsabilidade, com empatia e com compromisso com a verdade. Popularizar o tema não pode significar banalizá-lo.
Porque, no fim das contas, a romantização pode parecer acolhimento, mas na prática, ela cria um abismo entre a experiência real de quem sofre e a fantasia que circula na internet. E quem vive essa experiência precisa de apoio, não de mitos. Precisa de compreensão, não de idealizações. Precisa de espaço para ser quem é, sem precisar performar nem o sofrimento nem a genialidade.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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