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O peso do silêncio: a exaustão de quem se reprime para ser aceito

  • Foto do escritor: Luti Christóforo
    Luti Christóforo
  • 6 de nov.
  • 2 min de leitura

Por Luti Christóforo – Psicólogo


Há dores que não se expressam em palavras. Elas se escondem atrás de sorrisos educados, respostas curtas e comportamentos cuidadosamente controlados. É o sofrimento silencioso de quem passa a vida tentando não incomodar, de quem aprendeu a se adaptar para não ser rejeitado. Entre pessoas neurodivergentes, essa dor é frequente e profundamente invisível.


Na psicologia, chamamos esse processo de camuflagem emocional, um mecanismo inconsciente usado para garantir aceitação social. Ele se manifesta quando a pessoa reprime suas reações naturais, disfarça desconfortos sensoriais, ensaia expressões faciais e controla gestos para parecer “normal”. Mas essa tentativa de pertencimento tem um custo alto: o esgotamento emocional.


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Na clínica, atendi uma paciente autista que dizia sentir-se “exausta por existir em público”. Ela descrevia o esforço de medir cada palavra, cada olhar, cada movimento, para não ser mal interpretada. Ao final de um simples dia de trabalho, sentia-se como se tivesse vivido uma maratona emocional. Seu corpo estava presente, mas sua mente estava em alerta constante. Essa vigilância interna contínua é uma forma de autoabandono, um afastamento de si em nome da aceitação do outro.


A repressão emocional cria uma distância perigosa entre o que se sente e o que se mostra. E quanto mais essa distância cresce, maior se torna a sensação de vazio e desconexão. A pessoa começa a viver no modo de sobrevivência, tentando se encaixar em contextos que nunca foram feitos para acolhê-la. Com o tempo, surgem sintomas como ansiedade, fadiga, insônia e, em casos mais graves, depressão.


A psicologia entende que o silêncio, quando imposto pelo medo, não é calma, é opressão. O silêncio saudável é aquele que repousa, o silêncio adoecido é aquele que aprisiona. E muitos adultos neurodivergentes vivem presos nesse silêncio, aprendendo a conter suas emoções para não perder o pertencimento que acreditam depender da conformidade.


O trabalho terapêutico tem o papel de devolver a voz a esses silêncios. Em um espaço de escuta acolhedora e livre de julgamento, o sujeito pode, pouco a pouco, reaprender a se expressar. Descobrir que não precisa ser entendido o tempo todo, mas precisa ser verdadeiro. Que o afeto genuíno não nasce da performance, mas da presença autêntica.


A cura começa quando a pessoa percebe que não precisa mais se esconder para ser amada. Que é possível existir sem fingir, sentir sem se desculpar e falar sem medo de ser mal interpretada. O silêncio, então, deixa de ser prisão e volta a ser abrigo.


Luti Christóforo

Psicólogo clínico.

WhatsApp: (41) 99809-8887

Instagram: @luti.psicologo

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