O diálogo interno autocrítico: quando a mente se torna o próprio opressor
- Luti Christóforo

- há 7 dias
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Por Luti Christóforo – Psicólogo
Muitas pessoas neurodivergentes convivem com uma voz interna severa, que critica, julga e diminui. É uma voz que, aos poucos, deixa de ser percebida como uma construção psicológica e passa a ser confundida com a própria consciência. Essa voz é o reflexo das experiências de rejeição, comparação e cobrança que se acumulam desde a infância. O que começou como a tentativa de se adequar ao mundo acaba se transformando em um opressor interno, um censor que não permite descanso nem autocompaixão.
A mente, quando treinada pelo medo da reprovação, aprende a se antecipar à dor. Assim, critica antes de ser criticada, se culpa antes de ser julgada e se cala antes de ser rejeitada. Essa é a origem de um diálogo interno que se torna punitivo. A pessoa se acostuma a duvidar do próprio valor e, com o tempo, passa a viver prisioneira da própria autocrítica.

Na clínica, acompanhei um paciente com TDAH que dizia sentir-se constantemente “incompetente”. Mesmo após conquistas reais, como promoções no trabalho e reconhecimento de colegas, ele sempre encontrava uma forma de invalidar suas vitórias. Dizia que “deu sorte”, que “não fez mais do que a obrigação”. Esse tipo de discurso é o resultado de uma mente que aprendeu a sobreviver se cobrando. Quando o ambiente externo é hostil por muito tempo, a pessoa introjeta o agressor, transformando-o em uma voz interna que não permite descanso.
A psicologia compreende esse fenômeno como uma forma de defesa que se tornou disfuncional. A autocrítica, em doses equilibradas, pode impulsionar o crescimento pessoal. Mas quando se torna constante, deixa de ser uma aliada e passa a ser um sabotador. A pessoa não cresce, se encolhe. Não evolui, se esgota.
O primeiro passo terapêutico é ajudar o paciente a reconhecer que essa voz não é a verdade, mas uma construção emocional moldada por experiências passadas. A psicoterapia cria um espaço onde o sujeito pode aprender a observar seus pensamentos sem se identificar com eles, compreendendo que a autocrítica é um eco, não uma sentença.
Gradualmente, esse diálogo interno pode ser reeducado. A rigidez dá lugar à curiosidade, o julgamento dá lugar à compreensão. A mente deixa de ser um campo de batalha e começa a se tornar um espaço de acolhimento. O trabalho psicológico, nesse sentido, não busca silenciar a mente, mas ensinar a pessoa a conversar com ela de forma mais gentil.
Curar o diálogo interno é reconquistar a liberdade de ser quem se é, sem precisar se punir por existir. É aprender a substituir o “não sou bom o suficiente” por “estou em processo”. É perceber que o valor não vem da aprovação externa, mas da reconciliação interna. Quando a mente deixa de ser opressora e se torna aliada, a vida finalmente encontra espaço para respirar.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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