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A solidão neurodivergente: por que é tão difícil se sentir pertencente?

  • Foto do escritor: Luti Christóforo
    Luti Christóforo
  • 27 de jun.
  • 2 min de leitura

Por Luti Christóforo – Psicólogo


Há uma solidão que não grita, mas corrói. Ela não depende de estar sozinho, pode surgir mesmo no meio de uma multidão, em uma sala de aula, num ambiente de trabalho, ou até numa roda de amigos. É a solidão de quem pensa, sente e percebe o mundo de forma diferente e, por isso, passa a vida tentando encontrar um lugar onde possa simplesmente existir sem precisar se explicar o tempo todo.


Essa é, muitas vezes, a realidade emocional de pessoas neurodivergentes.


Elas aprendem cedo que seu jeito de ser confunde, incomoda ou é considerado “exagerado”. Por isso, crescem com a sensação de serem estrangeiras em seu próprio idioma. Falam, mas não são compreendidas. Ouvem, mas não se sentem escutadas. Tentam se encaixar, mas o espaço nunca parece feito para elas.

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A psicologia nos ensina que o senso de pertencimento é uma das necessidades humanas mais fundamentais. Sentir-se aceito, visto e valorizado pelo que se é, não pelo que se aparenta, é essencial para a saúde mental. E quando essa aceitação não acontece, o indivíduo tende a internalizar uma narrativa de inadequação: “O problema sou eu.”


Na prática clínica, percebo que muitos pacientes neurodivergentes carregam um histórico de exclusões invisíveis: o grupo que não convidava para sair, os professores que não compreendiam suas dificuldades, os familiares que diziam “você é muito sensível”, “você complica demais”, “você precisa se controlar”. A consequência? Um distanciamento emocional do mundo e, às vezes, de si mesmo.


Mas há um ponto crucial: a solidão não vem da diferença em si, mas da ausência de reconhecimento dessa diferença como legítima. Quando o mundo rotula aquilo que é diferente como errado, ele empurra para a margem quem apenas tem um jeito próprio de ser.


Por isso, o acolhimento terapêutico vai além do diagnóstico. Ele precisa validar a dor de não ter sido compreendido. Precisa ajudar a reconstruir a autoestima dilacerada por anos de exclusão sutil. E, acima de tudo, precisa guiar o paciente rumo a conexões reais com pessoas, espaços e narrativas que respeitem sua autenticidade.


Ser neurodivergente é caminhar fora da rota padrão. Mas isso não deveria significar caminhar sozinho. A construção de pertencimento não vem de tentar se tornar igual aos outros, mas de encontrar quem te escuta sem tentar te consertar. De construir relações onde o silêncio não gera julgamento e onde o afeto não exige performance.


Cada ser humano carrega o desejo legítimo de pertencer. E pessoas neurodivergentes não precisam de um convite para isso, elas precisam de um mundo que já as reconheça como parte dele.


Luti Christóforo

Psicólogo clínico.

WhatsApp: (41) 99809-8887

Instagram: @luti.psicologo

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