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Amor e vulnerabilidade: como a neurodivergência afeta a entrega emocional nos relacionamentos

  • Foto do escritor: Luti Christóforo
    Luti Christóforo
  • há 5 dias
  • 2 min de leitura

Por Luti Christóforo – Psicólogo


Relacionamentos sempre envolvem vulnerabilidade. Para qualquer pessoa, amar é aceitar correr riscos emocionais, é permitir que o outro tenha acesso ao que existe de mais íntimo e sensível dentro de nós. Para pessoas neurodivergentes, porém, essa entrega pode se tornar ainda mais complexa, porque o campo afetivo frequentemente é atravessado por experiências antigas de rejeição, incompreensão ou inadequação.


A forma de sentir, reagir e se conectar pode ser mais intensa, mais profunda ou mais sensível. E é justamente essa intensidade que muitas vezes é mal interpretada. A pessoa neurodivergente pode amar com profundidade e sinceridade, mas ainda assim carregar o medo constante de ser julgada por sua forma diferente de se expressar. O coração se abre, mas fica em alerta. É como se cada movimento afetivo precisasse ser cuidadosamente medido para evitar o risco de perder o vínculo que tanto deseja manter.


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Na clínica, acompanhei casos de pacientes com TDAH, autismo e outras neurodivergências que relatavam sentir um amor enorme, mas seguiam presos a um receio quase paralisante de não serem suficientes. Diziam que tinham medo de serem abandonados quando suas dificuldades aparecessem, medo de que a intensidade assustasse, medo de não conseguir corresponder ao que imaginavam que o outro esperava. A vulnerabilidade, nesses casos, não era apenas a entrega amorosa, mas também o confronto com a própria insegurança.


O que a psicologia observa é que muitos adultos neurodivergentes carregam marcas afetivas do passado. Foram criticados por serem sensíveis demais, intensos demais, literais demais ou desatentos demais. Aprenderam a se adaptar para manter relações, mas essa adaptação gerou feridas emocionais. Quando entram em relacionamentos amorosos, trazem consigo o receio de que essas características, que nunca foram plenamente compreendidas, acabem afastando a pessoa que amam.


Amar, então, se torna um exercício de coragem. É preciso coragem para mostrar quem se é, coragem para admitir fragilidades e coragem para confiar que o outro será capaz de acolher a singularidade. A vulnerabilidade não é sinal de fraqueza, mas de maturidade emocional.


O papel da psicoterapia, nesse contexto, é ajudar o indivíduo a reconhecer que a autenticidade é muito mais saudável do que a performance. A pessoa aprende a diferenciar o medo que pertence ao passado da realidade presente. Aprende a expressar necessidades e limites sem culpa. Aprende, principalmente, que relacionamentos verdadeiros não exigem perfeição, exigem presença.


Para quem é neurodivergente, o amor pode ser um território de cura, desde que vivido com alguém que compreenda que sensibilidade não é exagero e que intensidade não é defeito. Quando existe acolhimento mútuo, o relacionamento se torna um espaço de crescimento psicológico e emocional.


A entrega afetiva se fortalece quando o indivíduo percebe que não precisa esconder a própria essência. Amar é se permitir ser visto por inteiro. E, na neurodivergência, quando esse encontro acontece com respeito e compreensão, o vínculo se transforma em um lugar de verdade, de liberdade e de pertencimento emocional.


Luti Christóforo

Psicólogo clínico

WhatsApp: (41) 99809-8887

Instagram: @luti.psicologo

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