Autocompaixão e cura emocional na neurodivergência: o reencontro com a própria humanidade
- Luti Christóforo

- 31 de out.
- 2 min de leitura
Por Luti Christóforo – Psicólogo
A maioria das pessoas neurodivergentes aprende, desde cedo, a lidar com críticas, cobranças e comparações. Vivem tentando atender a expectativas que parecem nunca caber em sua forma de ser. Com o tempo, internalizam a ideia de que há algo errado nelas, e o diálogo interno se torna um campo de batalha entre o desejo de aceitação e a culpa por não corresponder.
É nesse espaço de conflito que nasce a importância da autocompaixão. Do ponto de vista psicológico, a autocompaixão não é autopiedade, é o olhar gentil que o sujeito aprende a dirigir a si mesmo quando compreende suas limitações e dores sem julgamento. É o momento em que, em vez de se cobrar por não ser igual aos outros, começa a se acolher por ser quem é.

Na clínica, acompanhei um paciente com TDAH que, ao longo da vida, ouviu repetidamente que era “inconstante e desorganizado”. Ele carregava vergonha por nunca ter conseguido se encaixar nos padrões de eficiência que via ao redor. Durante o processo terapêutico, percebeu que sua dificuldade não era falta de vontade, mas um modo diferente de funcionamento. A partir dessa compreensão, começou a substituir o julgamento por curiosidade: “Por que me sinto assim?” em vez de “O que há de errado comigo?”. Esse simples deslocamento de perspectiva abriu caminho para uma profunda reconciliação interna.
A autocompaixão é um processo psicológico de cura, porque dissolve o vínculo entre o erro e o castigo emocional. Ela ensina o sujeito a lidar com as próprias falhas com ternura e consciência, e não com punição. Em pessoas neurodivergentes, essa prática é libertadora, pois reduz a autocrítica, fortalece a autoestima e promove a autorregulação emocional.
A psicoterapia tem papel fundamental nesse processo, ao oferecer um espaço onde a pessoa possa ser validada, escutada e compreendida. É nesse espaço que o paciente aprende que vulnerabilidade não é fraqueza, é parte essencial da experiência humana. A cura começa quando o indivíduo deixa de lutar contra si mesmo e passa a se tratar como trataria alguém que ama.
Carl Gustav Jung dizia que “ninguém se torna iluminado ao imaginar figuras de luz, mas ao tornar consciente a escuridão”. A autocompaixão faz exatamente isso: ela não nega a dor, mas a ilumina com aceitação. A neurodivergência, quando olhada com esse mesmo amor, deixa de ser um fardo e passa a ser um caminho de autoconhecimento e transformação.
O primeiro passo da cura emocional é aprender a se ouvir com paciência, a se perdoar com verdade e a se acolher com respeito. Porque, no fim das contas, a maior forma de saúde mental é poder olhar para dentro e dizer: “Eu me aceito como sou, e isso é suficiente para começar.”
Luti Christóforo
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