Comorbidades emocionais em neurodivergentes: por que o sofrimento não vem de um lugar só
- Luti Christóforo

- 24 de jul.
- 2 min de leitura
Por Luti Christóforo – Psicólogo
Quando uma pessoa neurodivergente busca ajuda psicológica, nem sempre o principal motivo do sofrimento é o transtorno em si. Na maioria das vezes, o que machuca de verdade é o acúmulo de experiências difíceis que vieram junto com ele: rejeição, exclusão, culpa, fracassos repetidos, baixa autoestima, sensação de inadequação. E é aí que entram as comorbidades emocionais.
Na psicologia, comorbidade significa a presença de dois ou mais transtornos coexistindo no mesmo indivíduo. No caso das pessoas neurodivergentes, isso é extremamente comum. Quem tem TDAH, por exemplo, pode também desenvolver ansiedade, depressão, transtornos de sono, compulsões alimentares, entre outros. Quem está no espectro autista pode conviver com crises de pânico, fobias sociais ou até traços de transtornos obsessivo-compulsivos.

Mas não se trata apenas de sobreposição diagnóstica. O que precisamos compreender é que os transtornos emocionais muitas vezes surgem como consequência do esforço crônico de adaptação forçada. A criança que cresceu sendo chamada de “difícil”, o adolescente que não conseguia acompanhar o ritmo da escola, o adulto que vive esgotado por tentar parecer funcional — todos esses contextos são férteis para o desenvolvimento de angústias profundas e persistentes.
Na clínica, é comum ouvir relatos de pacientes neurodivergentes que passaram anos tentando ser “normais”, até que o corpo e a mente entraram em colapso. Ansiedade generalizada, crises de pânico, insônia crônica, pensamentos autodepreciativos, isolamento social. É como se a dor psíquica se acumulasse em camadas, e cada tentativa frustrada de se encaixar criasse uma nova ferida.
É por isso que, em muitos casos, não basta tratar o sintoma isolado. Um antidepressivo pode aliviar a tristeza, mas não resolve a dor de uma vida inteira se sentindo inadequado. Uma técnica de respiração pode ajudar a conter a ansiedade momentânea, mas não apaga anos de bullying, invisibilidade e autocrítica feroz.
A abordagem terapêutica com pacientes neurodivergentes precisa ser ampla, cuidadosa e profundamente respeitosa. Não se trata de “consertar” a pessoa, mas de ajudá-la a entender todas as camadas do seu sofrimento, acolher suas dores e reconstruir sua identidade com base em mais compaixão e menos julgamento.
Também é importante lembrar que o diagnóstico, quando bem feito, não rotula, liberta. Ele ajuda a organizar a história, a compreender por que certas dificuldades se repetem e a construir estratégias personalizadas para viver com mais leveza e autenticidade.
O sofrimento de uma pessoa neurodivergente raramente tem uma causa única. E é justamente por isso que a escuta terapêutica precisa ser profunda, sem pressa e sem fórmulas prontas. Cada dor carrega uma história. E cada história merece ser tratada com verdade, delicadeza e técnica.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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