Dislexia e autoestima: quando as letras se tornam um peso invisível
- Luti Christóforo

- 17 de set.
- 2 min de leitura
Por Luti Christóforo – Psicólogo
Na escola, muito do valor de uma criança é medido pela sua capacidade de ler e escrever. Por isso, quando o processo de alfabetização não acontece da forma esperada, a frustração não se limita às notas baixas, atinge diretamente a autoestima. Esse é o caso de muitas crianças e adolescentes com dislexia, um transtorno de aprendizagem caracterizado pela dificuldade persistente em reconhecer palavras, decodificar sons e escrever de forma fluida.
O problema não é apenas pedagógico, é também emocional. Quem convive com dislexia, desde cedo, passa a se comparar com os colegas, a sentir que está sempre atrasado, sempre falhando. Frases como “você não se esforça” ou “precisa se dedicar mais” ecoam como verdades dolorosas, quando, na realidade, a criança já está se esforçando muito mais do que os outros para alcançar resultados mínimos.

Na clínica, acompanhei o caso de uma adolescente que chegava às sessões sempre desanimada. Ela dizia: “Sou burra, nunca vou aprender”. O diagnóstico de dislexia, quando finalmente veio, trouxe alívio para ela e para a família. Não porque resolvia a dificuldade, mas porque tirava dela a culpa e a sensação de incapacidade. A partir daí, começamos a reconstruir não apenas sua relação com a leitura, mas também sua relação consigo mesma.
Mas afinal, o que é a dislexia? Trata-se de um transtorno específico de aprendizagem, de origem neurobiológica, que compromete a habilidade de reconhecer palavras de forma precisa e fluente, além de dificultar a decodificação e a escrita. Não tem relação com falta de inteligência ou esforço. Pelo contrário, muitas vezes a criança com dislexia desenvolve estratégias criativas para compensar as dificuldades. O que sofre não é sua capacidade cognitiva, mas o modo como seu cérebro processa símbolos escritos.
É fundamental entender que a dislexia não define a inteligência, e muito menos o valor de uma pessoa. Muitas vezes, indivíduos com dislexia apresentam habilidades extraordinárias em áreas criativas, artísticas, esportivas ou de raciocínio lógico. A dificuldade está na forma como o cérebro processa símbolos escritos, não no potencial geral do indivíduo.
Por isso, o papel da escola e da família é essencial: oferecer suporte pedagógico adequado, utilizar métodos de ensino diferenciados e, sobretudo, valorizar as conquistas que vão além das notas. Quando a criança se sente vista, compreendida e apoiada, a autoestima pode se reerguer, e a dificuldade passa a ser apenas uma parte da sua história, não a definição de quem ela é.
A psicologia, nesse contexto, é uma aliada poderosa. Trabalhar a autocompaixão, desenvolver estratégias para lidar com as frustrações e incentivar o reconhecimento das próprias qualidades ajuda o indivíduo a se libertar da ideia de que é incapaz. Porque, no fim das contas, a maior lição que a dislexia traz não está nas letras que se embaralham, mas na oportunidade de aprender a se enxergar além delas.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
WhatsApp: (41) 99809-8887
Instagram: @luti.psicologo
E-mail: lutipsicologo@gmail.com
YouTube: youtube.com/@lutipsicologo



