Neurodivergência e identidade: mais do que diagnósticos, um jeito único de existir
- Luti Christóforo

- 13 de jun.
- 2 min de leitura
Por Luti Christóforo – Psicólogo
É comum que, ao se falar em neurodivergência, o foco recaia quase exclusivamente sobre diagnósticos clínicos: TDAH, TEA, dislexia, disfunção sensorial, entre outros. Mas, para além da técnica e da terminologia, é preciso entender que estamos falando de pessoas, histórias e subjetividades. E, mais ainda, de identidades que foram moldadas por experiências de não pertencimento, de inadequação e, em muitos casos, de resistência silenciosa.
A psicologia tem um papel fundamental nesse processo: ajudar cada indivíduo a se reconhecer para além do que lhe falta, e a se constituir a partir daquilo que o torna singular. A neurodivergência não é uma doença. É uma forma distinta de perceber, processar e reagir ao mundo. E isso impacta diretamente na construção da identidade, especialmente quando desde cedo se ouve que há algo “errado” com o seu jeito de ser.
Quando uma pessoa é constantemente comparada aos padrões neurotípicos e vista como “menos capaz”, “excessiva” ou “desajustada”, ela pode crescer com uma autoestima fraturada. E, ainda assim, muitos adultos neurodivergentes tornam-se incrivelmente resilientes, porque precisaram aprender a se adaptar sem deixar de existir.
Na prática clínica, observo que um dos maiores sofrimentos dessas pessoas não está necessariamente nos sintomas, mas na sensação de não se reconhecer nos outros, e muitas vezes nem em si. A identidade, quando construída sob culpa, vergonha ou negação da própria natureza, se torna um fardo. Mas quando é reconstruída a partir da aceitação e do autoconhecimento, ela vira força.
Por isso, a psicoterapia precisa caminhar junto com a noção de diversidade. Não se trata de corrigir comportamentos para encaixar o paciente num modelo esperado, mas de oferecer ferramentas para que ele viva bem sendo quem é. Isso inclui aceitar sua intensidade, seu ritmo, sua sensorialidade, suas pausas e suas paixões.
A identidade de uma pessoa neurodivergente não se limita a um laudo ou a um CID. Ela se forma na interação com o mundo, na forma como ela lida com suas dificuldades, e, principalmente, na forma como ela transforma essas dificuldades em potência criativa, empatia, sensibilidade e inovação.
Por isso, mais do que “tratar” a neurodivergência, precisamos compreendê-la como um modo legítimo de ser no mundo, com tudo o que isso implica: limites, sim, mas também dons. Fragilidades, sim, mas também uma capacidade profunda de ver o que os outros ignoram. E isso, por si só, já é um jeito único de existir.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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