Neurodivergência na vida adulta: a reconstrução da identidade e o reencontro com quem se é
- Luti Christóforo

- 17 de out.
- 2 min de leitura
Por Luti Christóforo – Psicólogo
Muitas pessoas passam boa parte da vida sem saber que são neurodivergentes. Aprendem a se adaptar, a disfarçar, a tentar se encaixar em padrões que nunca pareceram naturais. Constroem uma identidade baseada em esforço, culpa e comparação, e só na vida adulta, diante de um diagnóstico ou de um processo terapêutico profundo, percebem que aquilo que chamavam de “fracasso pessoal” era, na verdade, um modo de funcionamento diferente, legítimo e humano.
O impacto psicológico dessa descoberta é imenso. Alguns sentem alívio, finalmente encontram uma explicação para o cansaço, as crises, as dificuldades de socialização ou a sensação constante de inadequação. Outros sentem raiva ou tristeza por terem vivido anos tentando ser algo que nunca poderiam ser. A psicologia vê esse momento como um ponto de virada na construção da identidade, um processo de reconciliação com a própria história.

No consultório, acompanhei uma paciente de 42 anos que descobriu ser autista após décadas acreditando que apenas era ansiosa demais. Quando recebeu o diagnóstico, disse algo muito forte: “Eu me esforcei tanto para ser normal que esqueci quem eu era.” A partir dali, nosso trabalho terapêutico não foi apenas entender a neurodivergência, mas ajudá-la a reconstruir o próprio eu, sem a máscara que a sociedade a obrigou a usar.
Esse reencontro com a identidade autêntica é um dos caminhos mais transformadores da psicoterapia. O autoconhecimento, quando profundo e acompanhado de aceitação, devolve à pessoa a sensação de pertencimento. Ela passa a compreender seus ritmos, seus limites, suas preferências e sua forma singular de perceber o mundo. E, mais do que isso, aprende a valorizar suas potências, aquilo que antes era visto como defeito passa a ser reconhecido como diferença.
Na psicologia analítica, Carl Gustav Jung dizia que o processo de individuação é o movimento de se tornar quem se é, e não quem o mundo espera que sejamos. Esse conceito se encaixa perfeitamente na jornada de pessoas neurodivergentes. Ser autêntico, nesse contexto, é um ato de coragem, porque exige se libertar de uma vida inteira de tentativas de camuflagem.
A terapia oferece o espaço seguro para que essa reconstrução aconteça sem julgamento. É ali que o sujeito pode ser, pela primeira vez, ele mesmo, com suas pausas, suas confusões, suas intensidades e sua verdade. O trabalho psicológico não busca normalizar, mas humanizar.
Reconhecer-se neurodivergente não é o fim de uma história, é o começo de uma existência mais consciente e honesta. É o momento em que a pessoa deixa de perguntar “O que há de errado comigo?” e começa a se perguntar “Quem eu realmente sou?”.
E é nesse ponto que o sofrimento começa a se transformar em sentido.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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