Neurodivergência na vida adulta: quando o diagnóstico chega tarde, mas ainda pode transformar tudo
- Luti Christóforo
- há 5 dias
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Por Luti Christóforo – Psicólogo
É cada vez mais comum que pessoas adultas cheguem à terapia com uma sensação estranha e persistente: a de que sempre houve algo “diferente” nelas, mas que ninguém soube nomear. Viveram décadas tentando se adaptar, colecionando rótulos como “esquecido”, “intenso”, “bagunceiro”, “ansioso”, “desligado”, “complicado”. Muitas vezes, enfrentaram fracassos escolares, instabilidade profissional, dificuldade nos relacionamentos e uma autocrítica impiedosa. E só depois de muitos tropeços, descobrem que o que sentem tem nome, causa e explicação: neurodivergência.
Receber um diagnóstico de TDAH, autismo ou outro transtorno do neurodesenvolvimento na vida adulta é, para muitos, como acender uma luz em uma casa escura. De repente, passagens da infância fazem sentido, padrões de comportamento se conectam, dores antigas encontram um lugar legítimo. É como se a história pessoal ganhasse contornos mais claros, não para rotular, mas para compreender.

No entanto, junto com o alívio vem o luto. O luto pelas oportunidades perdidas, pelas culpas desnecessárias, pelos anos vividos tentando se encaixar sem sucesso. O luto por não ter sido compreendido por professores, colegas, amigos ou familiares. E também o luto por si mesmo, por tudo o que poderia ter sido diferente se a verdade tivesse vindo antes.
Na psicologia, olhamos para esse processo com muito cuidado. Porque o diagnóstico tardio não apaga o sofrimento vivido, mas pode ser o ponto de partida para um novo jeito de viver consigo mesmo. Ele não muda o passado, mas muda a forma como se olha para ele. E isso, por si só, é profundamente transformador.
A partir desse ponto, o trabalho terapêutico se torna um caminho de reconstrução. É preciso resgatar a autoestima ferida, reescrever a própria história sem culpa e, principalmente, aprender a viver com mais compaixão e menos exigência. Não se trata de se acomodar, mas de parar de brigar com a própria essência.
A descoberta da neurodivergência na vida adulta também abre espaço para o autoconhecimento verdadeiro. Muitos pacientes relatam que, pela primeira vez, conseguem se ver com carinho. Entendem seus ritmos, suas pausas, suas formas de pensar. Descobrem o que os sobrecarrega e o que os fortalece. E isso impacta positivamente em todas as áreas da vida: nos relacionamentos, no trabalho, na saúde emocional.
É importante lembrar que nunca é tarde para compreender quem se é. Nunca é tarde para mudar a forma como se cuida de si. E nunca é tarde para viver com mais verdade.
A neurodivergência pode ter sido invisível por anos. Mas uma vez que é reconhecida, ela deixa de ser fardo silencioso e passa a ser um convite para uma existência mais autêntica, mais leve e mais justa consigo mesmo.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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