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Resiliência e transcendência: transformar a dor em sabedoria

  • Foto do escritor: Luti Christóforo
    Luti Christóforo
  • 24 de nov.
  • 2 min de leitura

Por Luti Christóforo – Psicólogo


A dor é um elemento inevitável da existência humana. Mas, para muitas pessoas neurodivergentes, essa dor surge cedo, quando o mundo responde à diferença com estranhamento, cobrança ou rejeição. Cada crítica, cada olhar atravessado, cada sensação de inadequação deixa marcas emocionais que acompanham o indivíduo durante anos. No entanto, também é verdade que muitas das histórias mais profundas de crescimento humano nasceram justamente dessa dor. É nesse ponto que a psicologia encontra o conceito de resiliência e, mais adiante, o de transcendência.


A resiliência não é a capacidade de “aguentar firme”. Não é resistência teimosa nem força bruta. Em psicologia, resiliência é o movimento interno que permite ao sujeito reorganizar sua vida após a adversidade. É o momento em que ele compreende que não controla o mundo, mas pode escolher como responder às feridas que carrega. A dor não desaparece, mas se transforma. Deixa de ser peso e passa a ser matéria-prima de consciência.


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Na clínica, acompanhei pacientes que viveram infância e adolescência marcadas por exclusão e humilhações silenciosas. Quando adultos, muitos deles se perguntavam por que se sentiam sempre prontos para se defender, como se esperassem ser feridos a qualquer momento. Ao longo do processo terapêutico, perceberam que essa defesa era uma cicatriz emocional. Não estava ali para machucar, estava para proteger. E, quando reconhecida, essa defesa deixava de controlar suas vidas e começava a lhes ensinar algo precioso sobre seus limites, sobre sua sensibilidade e sobre sua história.


A transcendência é o passo seguinte. Ela acontece quando o indivíduo, depois de compreender sua dor e ressignificá-la, transforma essa experiência em sabedoria. É o momento em que ele reconhece que a dor o moldou, mas não o definiu. E, mais do que isso, percebe que essa sensibilidade que antes parecia fraqueza pode se tornar fonte de empatia, profundidade e humanidade.


A psicologia analítica, muitas vezes, aponta para esse caminho quando fala do processo de individuação. Jung descreve a jornada do sujeito como uma travessia em direção a si mesmo, uma busca pelo sentido que existe por trás dos desafios vividos. Para pessoas neurodivergentes, esse processo é ainda mais significativo, porque envolve aceitar um modo diferente de existir e reconhecer valor onde, por muito tempo, só se viu erro.


Transformar dor em sabedoria é um ato silencioso e gradual. Exige coragem para mergulhar na própria história, humildade para aceitar as próprias fragilidades e autenticidade para reconstruir a vida a partir delas. Mas é também um ato de liberdade. A liberdade de existir com verdade, de ocupar o próprio lugar no mundo, de não precisar mais se justificar por ser quem se é.


A transcendência nasce quando o sujeito percebe que sua diferença não é uma falha de origem, mas uma forma singular de perceber e interpretar o mundo. E, quando essa percepção se torna consciente, a dor se transforma em luz. Não uma luz que cega, mas uma luz que guia.



Luti Christóforo

Psicólogo clínico

WhatsApp: (41) 99809-8887

Instagram: @luti.psicologo

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