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Rotinas que funcionam: quando estrutura é liberdade para pessoas neurodivergentes

  • Foto do escritor: Luti Christóforo
    Luti Christóforo
  • 11 de jul.
  • 2 min de leitura

Por Luti Christóforo – Psicólogo


Existe uma ideia equivocada de que a liberdade está no improviso, na ausência de regras, na possibilidade de viver cada dia como uma página em branco. Para muitas pessoas, talvez isso funcione. Mas para quem é neurodivergente, a liberdade verdadeira pode nascer justamente do oposto: de rotinas bem construídas, previsíveis e respeitosas com seus limites e necessidades.


Pessoas neurodivergentes costumam ter uma relação intensa com o tempo, com a organização, com a sequência de tarefas. Às vezes, essa relação é caótica. Outras vezes, é rígida demais. Mas o ponto comum é: a ausência de estrutura muitas vezes gera desorientação, ansiedade e uma sensação de estar constantemente em dívida consigo mesmo e com o mundo.

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Do ponto de vista psicológico, as rotinas funcionam como âncoras. Elas ajudam a mente a prever o que vem a seguir, diminuem o gasto energético com decisões repetitivas, evitam sobrecarga mental e emocional, e contribuem para a criação de hábitos mais saudáveis. E mais do que isso: dão segurança.


O cérebro neurodivergente, quando exposto a muitos estímulos ao mesmo tempo, pode entrar em colapso. Quando exposto a tarefas desorganizadas ou prazos vagos, pode paralisar. Quando forçado a responder a um mundo apressado, linear e impessoal, tende a sofrer. E é por isso que a rotina personalizada não deve ser vista como prisão, mas como ferramenta de autonomia.


Mas atenção: não estamos falando de uma rotina engessada, que sufoca e impõe metas inalcançáveis. Estamos falando de uma estrutura flexível, construída com afeto, autoconhecimento e respeito à subjetividade de cada um. Uma rotina que leve em consideração o tempo de descanso, o tempo de silêncio, o tempo de foco e o tempo de criatividade. Uma rotina que acolhe, e não pressiona.


Na clínica, oriento muitos pacientes neurodivergentes a criarem rotinas visuais, listas de tarefas com códigos simples, uso consciente de alarmes ou aplicativos de apoio. Também estimulo que aprendam a se observar: quais horários funcionam melhor? Em que ambiente você se concentra mais? O que te sobrecarrega? O que te estimula? A resposta a essas perguntas é que define a rotina ideal, não um manual genérico de produtividade.


Rotina que funciona é aquela que respeita a pessoa como ela é. Que dá ritmo sem cobrar perfeição. Que ajuda a organizar sem apagar a espontaneidade. Que se adapta à vida real, e não à fantasia de controle absoluto.


No fim das contas, a rotina certa pode ser o que permite que a pessoa neurodivergente tenha mais energia para viver a vida com autenticidade, liberdade e paz. Porque quando a mente se sente segura, ela floresce. E não há nada mais libertador do que ser quem se é, sem se perder no caos dos dias.


Luti Christóforo

Psicólogo clínico.

WhatsApp: (41) 99809-8887

Instagram: @luti.psicologo





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