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Solidão emocional na neurodivergência: o silêncio de quem sente demais e é pouco compreendido

  • Foto do escritor: Luti Christóforo
    Luti Christóforo
  • 27 de out.
  • 2 min de leitura

Por Luti Christóforo – Psicólogo


Entre os sofrimentos mais frequentes que escuto em consultório, a solidão é um dos mais silenciosos. Ela não se manifesta apenas na ausência de companhia, mas no sentimento persistente de não se sentir compreendido, mesmo cercado de pessoas. Essa solidão emocional é especialmente presente em adultos neurodivergentes, que aprenderam, desde cedo, a se adaptar a um mundo que raramente fala a mesma língua emocional que eles.


Na psicologia, entendemos a solidão não apenas como isolamento físico, mas como uma desconexão simbólica, a sensação de não encontrar ressonância no outro. Para muitas pessoas neurodivergentes, essa desconexão começa ainda na infância, quando percebem que suas reações, seus interesses e suas emoções são diferentes. O medo da rejeição leva à camuflagem: sorriem quando estão desconfortáveis, concordam quando discordam, tentam se ajustar para não perder vínculos. O preço dessa estratégia é alto, é o afastamento de si mesmo.


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Na clínica, acompanhei um homem de 38 anos que, após descobrir o diagnóstico de autismo leve, disse algo que resume essa experiência: “Passei a vida inteira tentando me encaixar, e agora percebo que o encaixe nunca foi o meu lugar.” Essa frase carrega uma verdade profunda, pertencer não é se encaixar, é ser aceito naquilo que se é.


O processo terapêutico, nesses casos, é também um processo de reconstrução da autoestima e da identidade emocional. A pessoa precisa aprender a se aproximar novamente da própria sensibilidade, a reconhecer o valor de sentir profundamente e a entender que o isolamento, muitas vezes, foi uma forma de defesa. É no espaço da escuta empática que o indivíduo pode, pela primeira vez, sentir-se validado, sem precisar justificar sua intensidade ou sua forma singular de existir.


A solidão emocional é um sintoma do excesso de adaptação. Quando o sujeito vive muito tempo tentando caber nos moldes do outro, perde a fluência emocional consigo mesmo. A terapia busca devolver essa fluência, ajudando o indivíduo a resgatar o contato com sua própria verdade, e a compreender que não há nada de errado em ser diferente, apenas em viver aprisionado por padrões que negam essa diferença.


Pertencer não é encontrar um grupo onde tudo se encaixa, é encontrar pessoas que respeitam os espaços entre as peças. A neurodivergência, quando compreendida, nos ensina isso: que a convivência não depende da semelhança, mas da aceitação da diversidade emocional que nos compõe como humanos.


Luti Christóforo

Psicólogo clínico.

WhatsApp: (41) 99809-8887

Instagram: @luti.psicologo

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